quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Papa se pronuncia sobre política brasileira

Diogo Leão


Muitas são as polêmicas que líderes da Igreja Católica tem se envolvido ultimamente com temas como a defesa da vida e da moral familiar, os quais esquentaram ainda mais os ânimos durante a campanha eleitoral. O Papa Bento XVI, às 11 h do dia 28 de outubro de 2010, reuniu com os bispos da regional da CNBB nordeste 5, lugar onde a candidata Dilma Rousseff, tem um grande eleitorado.

Vários fatos recentes polemizam as atitudes de muitos católicos e de seus respectivos líderes. No dia 26 de agosto de 2010, a Regional Sul 1 da CNBB emitiu um documento intitulado Apelo a Todos os Brasileiros e Brasileiras, o qual enumera uma série de políticas pró-aborto do Partido dos Trabalhadores (PT), entre as quais está a punição dos dois Luiz Bassuma e Henrique Afonso por serem contrários à legalização do aborto. Dom Luís Gonzaga Bergonzini também admitiu em uma carta feita a todos os bispos do Brasil no dia 12 de outubro de 2010 que fez “uma campanha contra os candidatos favoráveis ao aborto, de todos os partidos, a qualquer cargo”.

No dia 17 de outubro, obedecendo a uma representação do PT acolhida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a Polícia Federal realizou a apreensão de 1,1 milhões de cópias do documento que estavam na Editora Gráfica Pana Ltda. Também católicos que distribuíam cópias deste documento pelas ruas foram presos, conforme denuncia o Padre Paulo Ricardo de Azevedo Júnior. Muitos entenderam a situação como censura do governo do PT contra católicos que se manifestam na política.

A revista ISTOÉ, na sua edição do dia 27 de outubro de 2010, na qual diz que “defende a descriminalização do aborto”, publicou uma matéria na qual mistura os abusos da campanha eleitoral de José Serra em temas religiosos e as ações dos bispos da regional sul 1 da CNBB, sobretudo as de Dom Luiz Gonzaga Bergonzini. A matéria publicada pela revista amplamente lida no Brasil, acusa líderes da igreja de “dominar a consciência política do povo”. As acusações foram feitas inclusive com as vozes de outros líderes católicos como o Frei Beto e o Pe. Júlio Lancellotti.

Por outro lado, o mais alto representante da hierarquia católica, o Papa Bento XVI, no discurso dirigido aos bispos da regional Nordeste 5, que se encontravam em Roma no dia 28 de outubro de 2010, adverte que a um bispo “compete contribuir para a purificação da razão e o despertar das forças morais necessárias para a construção de uma sociedade justa e fraterna” e em caso que “os direitos fundamentais da pessoa ou a salvação das almas o exigirem, os pastores têm o grave dever de emitir um juízo moral, mesmo em matérias políticas”. O Papa exortou aos bispos que “seria totalmente falsa e ilusória qualquer defesa dos direitos humanos políticos, econômicos e sociais que não compreendesse a enérgica defesa do direito à vida desde a concepção até à morte natural”.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Compras, lazer e fé

Um Shopping Center que tem um recinto religioso

Diogo Leão e Sabrina Assumpção


Correria para alcançar novas promoções. Lojas e mais lojas. Espaços vazios prontos para receber novos enfeites. Este é o clima pré-natal. Um local também ideal para marcar encontros, rever amigos e paquerar. No Shopping Del Rey, também é possível encontrar cinema, serviços de lazer como jogos e até mesmo salão de beleza. Enfim, um lugar bem diversificado. Frequentado por diversas classes de pessoas que procuram os mais diversos serviços, na maioria, relacionados ao comércio e ao entretenimento.


Mas, no primeiro andar de um de seus incontáveis corredores que podemos encontrar a Capela São Judas Tadeu. No meio de tanta correria, dentro da capela cerca de 30 pessoas participam da missa celebrada pelo Pe. Valdemir Sérgio da Silva, capelão.


Pe. Valdemir celebrando a missa

“Às vezes no corre-corre com a família e as diversas atividades, as pessoas não tem nem tempo para irem à igreja. Levando também em consideração que muitas vezes as igrejas estão fechadas. Sendo assim, a capela aqui”, explica o Pe. Valdemir. “O falecido dono do Shopping, Arthur Sendas, perguntou para a sua amiga, Maria Ângela Nicolleti, fundadora da Comunidade de Evangelização Nova Aliança, o que ela gostaria de fazer por parte dela no Shopping. A resposta foi uma capela”. Conta a coordenadora da capela Isa Maria Pereira.

“Visito a capela todos os dias em horário de almoço. É muito bom que tenha uma capela em meu local de trabalho. Muito bom, já que, shopping é um lugar que presume o consumo, porém ali também há pessoas que param para orar”, fala o vendedor André Silva. Diferentemente de outros visitantes, a zeladora Maria Tereza mora nas proximidades do shopping, e há nove anos frequenta a capela – “é fantástico! A pessoa vem para distrair e distrai com Jesus”.

Na opinião dos jovens Carlos Alberto, 21 anos e Isabelle Gonçalves, 19 anos, “O Shopping é lugar de descontração, não passa pela cabeça de uma pessoa que exista um lugar como esses por aqui”, se referindo a capela. “Pessoas saem de casa e vem para cá para se divertirem”, continuam. Já Marcelo Freitas, 34 anos, afirma – “não é interessante. Capela não é o tipo de serviço que combine com um shopping”.

No dia 28 de outubro, às 20h, será celebrada uma missa em comemoração pelos 19 anos do Shopping Del Rey, em homenagem ao padroeiro São Judas Tadeu. A celebração eucarística será presidida pelo Padre Júlio César, concelebrada com o Pe. Valdemir.

A capela está aberta de segunda à sexta, das 10 à 19 h e nos sábados até às 17 h. Nas sextas-feiras e nos dias 28 de cada mês tem missa às 18 h. Nas quintas-feiras tem exposição do Santíssimo Sacramento. Cada dia, 9 zeladoras se turnam na capela, tanto para zelar pelo lugar, quanto para atender as pessoas que ali entram. Toda a organização está a cargo da Comunidade de Evangelização Nova Aliança e a manutenção a cargo da própria administração do Shopping.


terça-feira, 26 de outubro de 2010

Censura contra a Igreja

No dia 17 de outubro de 2010, em pleno processo de campanha eleitoral do segundo turno, a Policia Federal apreendeu 1,1 milhões de cópias de um documento impresso intitulado “Apelo a Todos os Brasileiros e Brasileiras”, que reproduz conclusões de um Encontro de Comissões Diocesanas da Regional Sul 1 da CNBB. A ação da PF obedeceu a uma representação do PT acolhida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Conforme fontes do Estado de São Paulo, Dilma Rousseff em visita ao Museu da Língua Portuguesa considerou a produção destes impressos como "crime eleitoral" e que as acusações foram feitas sem investigações. Em contrapartida, tanto em carta publicada no dia 12 de outubro, Luiz Gonzaga Bergonzini, bispo de Guarulhos, do mesmo regional da CNBB, como no próprio “Apelo a Todos os Brasileiros e Brasileiras” estão citados nomes de políticos e ações pró-aborto tomadas por eles como os números dos projetos.

O documento cita fatos e enumera conclusões, desde políticas realizadas por políticos do PT até como a punição dos “dois deputados Luiz Bassuma e Henrique Afonso por serem contrários à legalização do aborto”. Em uma entrevista coletiva, no dia 21 de outubro, Dom Geraldo Lyrio Rocha, presidente da CNBB disse que tem “uma admiração muito grande por Dom Luiz Gonzaga Bergonzini e os seus procedimentos estão dentro daquilo que a Igreja espera. Ele tem o direito e até o dever de, de acordo com sua consciência, orientar seus fiéis do modo que julga mais eficaz mais conveniente”.

Abaixo segue o texto dos impressos apreendidos:



Apelo a Todos os Brasileiros e Brasileiras

NOTA DA COMISSÃO EPISCOPAL REPRESENTATIVA DO CONSELHO EPISCOPAL REGIONAL SUL 1 - CNBB



A Presidência e a Comissão Representativa dos Bispos do Regional Sul 1 da CNBB, em sua Reunião ordinária, tendo já dado orientações e critérios claros para “VOTAR BEM”, acolhem e recomendam a ampla difusão do “APELO ATODOS OS BRASILEIROS E BRASILEIRAS” elaborado pela Comissão em Defesa da Vida do Regional Sul 1 que pode ser encontrado no seguinte endereço eletrônico “www.cnbbsul1.org.br”.

São Paulo, 26 de Agosto de 2010.





Dom Nelson Westrupp, scj - Presidente do CONSER-SUL 1

Dom Airton José dos Santos - Secretário Geral do CONSER SUL 1

Dom Benedito Beni dos Santos - Vice-presidente do CONSER-SUL



Nós, participantes do 2º Encontro das Comissões Diocesanas em Defesa da Vida (CDDVs), organizado pela Comissão em Defesa da Vida do Regional Sul 1 da CNBB e realizado em S. André no dia 03 de julho de 2010,

- considerando que, em abril de 2005, no IIº Relatório do Brasil sobre o Tratado de Direitos Civis e Políticos, apresentado ao Comitê de Direitos Humanos da ONU (nº 45) o atual governo comprometeu-se a legalizar o aborto,

- considerando que, em agosto de 2005, o atual governo entregou ao Comitê da ONU para a Eliminação de todas as Formas de Descriminalização contra a Mulher (CEDAW) documento no qual

reconhece o aborto como Direito Humano da Mulher,

- considerando que, em setembro de 2005, através da Secretaria Especial de Polítíca das Mulheres, o atual governo apresentou ao Congresso um substitutivo do PL 1135/91,

como resultado do trabalho da Comissão Tripartite, no qual é proposta a descriminalização do aborto até o nono mês de gravidez e por qualquer motivo, pois com a eliminação de todos os artigos do Código Penal, que o criminalizam, o aborto, em todos os casos, deixaria de ser crime,

- considerando que, em setembro de 2006, no plano de governo do 2º mandato do atual Presidente, ele reafirma, embora com linguagem velada, o compromisso de legalizar o aborto,

- considerando que, em setembro de 2007, no seu IIIº Congreso, o PT assumiu a descriminalização do aborto e o atendimento de todos os casos no serviço público como programa de partido, sendo o primeiro partido no Brasil a assumir este programa,

- considerando que, em setembro de 2009, o PT puniu os dois deputados Luiz Bassuma e Henrique Afonso por serem contrários à legalização do aborto,

- considerando como, com todas estas decisões a favor do aborto, o PT e o atual governo tornaram-se ativos colaboradores do Imperialismo Demográfico que está sendo imposto em nível mundial por Fundações Internacionais, as quais, sob o falacioso pretexto da defesa dos direitos reprodutivos e sexuais da mulher, e usando o falso rótulo de “aborto - problema de saúde pública”, estão implantando o controle demográfico mundial como moderna estratégia do capitalismo internacional,

- considerando que, em fevereiro de 2010, o IVº Congresso Nacional do PT manifestou apoio incondicional ao 3º Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH3), decreto nª 7.037/09 de 21 de dezembro de 2009, assinado pelo atual Presidente e pela ministra da Casa Civil, no qual se reafirmou a descriminalização do aborto, dando assim continuidade e levando às últimas consequências esta política antinatalista de controle populacional, desumana, antisocial e contrária ao verdadeiro progresso do nosso País,

- considerando que este mesmo Congresso aclamou a própria ministra da Casa Civil como candidata oficial do Partido dos Trabalhadores para a Presidência da República,

- considerando enfim que, em junho de 2010, para impedir a investigação das origens do financiamento por parte de organizações internacionais para a legalização e a promoção do aborto no

Brasil, o PT e as lideranças partidárias da base aliada boicotaram a criação da CPI do aborto que investigaria o assunto,

RECOMENDAMOS encarecidamente a todos os cidadãos e cidadãs brasileiros e brasileiras, em consonância com o art. 5º da Constituição Federal, que defende a inviolabilidade da vida humana e, conforme o Pacto de S. José da Costa Rica, desde a concepção, independentemente de sua convicções ideológicas ou religiosas, que, nas próximas eleições, deem seu voto somente a candidatos ou candidatas e partidos contrários à descriminalizacão do aborto.

Convidamos, outrossim, a todos para lerem o documento “Votar Bem” aprovado pela 73ª Assembléia dos Bispos do Regional Sul 1 da CNBB, reunidos em Aparecida no dia 29 de junho de 2010 e verificarem

as provas do que acima foi exposto no texto “A Contextualização da Defesa da Vida no Brasil” (http://www.cnbbsul1.org.br/arquivos/defesavidabrasil.pdf), elaborado pelas Comissões em Defesa da

Vida das Dioceses de Guarulhos e Taubaté, ligadas à Comissão em Defesa da Vida do Regional Sul 1 da CNBB, ambos disponíveis no site desse mesmo Regional.

COMISSÃO EM DEFESA DA VIDA DO REGIONAL SUL 1 DA - CNBB

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Esporte, luzes de astros

Diogo Leão


Edson Arantes do Nascimento, mais conhecido como Pelé, completa 70 anos no dia 23 de outubro de 2010. Tendo recebido o nome como homenagem a Thomas Edson, o inventor da luz elétrica, o atleta foi luz nos campos de futebol, atividade que para muitos é a principal característica do Brasil. A admiração pelos atletas é um fenômeno praticamente universal na humanidade. Vemos o fenômeno na antiguidade com grande destaque nos jogos olímpicos na Grécia antiga, também nos povos pré-colombianos e outros. No entanto, hoje a admiração pela personalidade de uma pessoa é algo que às vezes é perigoso.

Qualquer um que tem contato com crianças sabe o quanto os atletas as impressionam e até mesmo como elas os imitam. Vemos muitas crianças e jovens imitando os cortes de cabelo dos jogadores de futebol, imitando o modo de saudar os fãs, mandando beijos. Não são poucas as crianças e jovens que pretendem dedicar a vida ao esporte profissional.

Os atletas levam uma grande responsabilidade, pois sobre eles estão os olhares de muitas pessoas, sobretudo dos jovens. Os jovens buscam se espelhar neles, e o exemplo que deixam tanto de vida pública como de vida privada são de grande repercussão na sociedade. Quais são os exemplos que os nossos atletas dão?

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Política, religião e exploração

Diogo Leão

Fato visível nestas eleições tem sido a estratégia que os candidatos José Serra e Dilma Rousseff tentaram usar para conquistar votos explorando a religiosidade do povo. Pudemos ver nas proximidades do dia 12 de outubro, dia em que os católicos brasileiros festejam Nossa Senhora Aparecida que tanto Serra quanto Dilma visitaram o santuário dedicado à santa. Santinhos com motivos religiosos foram impressos como propaganda de Serra e Dilma procurou reunir-se com líderes de cristãos popularmente conhecidos como “evangélicos”.

Os estudos de fenomenologia da religião, feitos pela linha filosófica que leva o mesmo nome, verifica que a religião é um fenômeno universal entre os humanos, que caracteriza a visão de mundo que este tem dividindo tudo o que existe entre sagrado e profano, e que conduz o homem por uma série de práticas que o leva à salvação de suas alienações. As religiões também têm seus líderes que orientam as consciências de seus adeptos conforme suas doutrinas. Os homens são capazes de suportar grandes sofrimentos por causa de suas religiões até mesmo a morte.

Estamos em um momento novo da história da humanidade onde surgiu o estado laico. Na maioria das civilizações e períodos da história o poder religioso esteve unido ao poder político, um dependia do outro. O cristianismo surgiu como religião proibida, já que no seu ambiente originário eram considerados como blasfemos entre os judeus (pois diziam que Jesus era não só o messias, mas também Deus) e rebeldes entre os romanos (pois resistiam reconhecer o imperador como divino). Nestas condições, essa religião, aportou um novo comportamento religioso no ocidente, porque ela foi possível existir de forma independente do estado. Com o decorrer da idade média a influência política do cristianismo cresceu muito, diminuindo na idade moderna devido aos regimes absolutistas onde os monarcas tentavam dominar a religião e quase oficialmente terminada na idade contemporânea, pois ainda restam alguns casos como o da Inglaterra onde o anglicanismo é a religião oficial.

No entanto, quando uma pessoa se adere a uma religião, ela o faz com todo o seu ser. Sendo assim também com sua consciência e liberdade. Isso explica a flexibilidade de abandono da religião quando essa é imposta. Na religião a pessoa movida pela fé, muitas vezes faz experiência de paz quando consegue identificar seus pensamentos e atitudes com a religião.

Algo antiético é explorar desta dimensão humana por parte de alguns para obter vantagens pessoais, usando não só a religião, como também as pessoas e no caso de exploração da religião para obter vantagens políticas, um retrocesso no progresso que a humanidade fez em conseguir viver a religião com liberdade, de forma independente do estado.

Agora dado que uma religião engloba a pessoa humana em sua totalidade, sem dúvida o indivíduo como religioso como tal também atuará na política, defendendo as suas posições e não é uma atitude democrática abafar a atuação dos indivíduos.

Por outro lado vemos também o fato de usar a religião como caminho fácil para apresentar valores, não necessitando recorrer a argumentações mais precisas. Isso mostra falta de boa vontade dos políticos debater suas propostas. A falta de reflexão e de boa vontade tende a apelar a motivos religiosos em temas polêmicos como aborto e união civil de homossexuais. Se alguém é contra o aborto ou à união civil de homossexuais tende a ser taxado imediatamente como religioso e que por isso em um estado laico não se deve levar em consideração a posição dela. Será que realmente só motivos religiosos levam a estas posições?

A Realidade dos Flanelinhas

Sabrina Assumpção (com colaboração de Diogo Leão)

Paulo Cézar tomando conta dos carros ao lado a igreja do Pe. Eustáquio
em Belo Horizonte
Ao estacionar seu carro em via pública, seja no centro da cidade ou em qualquer outro lugar mais movimentado, lá estão eles para auxiliá-lo. Os tomadores de conta, ou popularmente flanelinhas, trabalham como autônomos. Oferecem atividades como lavagem e localização de vagas para carros a fim de ganhar um trocado por esse tipo de serviço. Eles ficam na rua cotidianamente, sob sois escaldantes, e correm risco de vida durante noites desérticas, tudo, com o objetivo de receber um trocado.

“Tem gente que não reconhece meu trabalho, mas daqui que tiro meu sustento”, diz Paulo Cézar, que há oito anos trabalha como flanelinha no mesmo local. Na pracinha onde fica, mostra o que sobrou do escritório improvisado que havia montado. Parte foi varrida pela prefeitura, e queimada por outros flanelinhas que tentaram se estabelecer em seu local de trabalho. Lá, ao mesmo tempo em que escreve poesias, Paulo toma conta dos carros estacionados e faz amizade com todos que passam pela região. “A polícia daqui me dá a maior força”, fala sobre o apoio que recebe.

Segundo Paulo, a profissão é bem arriscada. Quando vê pessoas suspeitas se aproximando dos carros, ele dá um jeito de conversar, para saber de suas intenções. Mas, dependendo da situação, às vezes, liga pra polícia. “Em 2004, colocaram um revólver na minha cabeça e levaram o carro”, conta Paulo sobre incidente em que quase perdeu a vida. Mas, feliz, conta que gosta do que faz — “o pessoal daqui me trata como uma família”.

A respeito do dinheiro que arrecada, Paulo conta que não pede nada, e que cabe ao dono do carro reconhecer seu serviço e avaliá-lo — “Tem uns flanelinhas que exigem, e não é por ai, a rua é pública e dá dinheiro quem quer. Já cheguei a receber R$ 100 em época de Natal”. A colocação de cones em vias públicas é outro item polêmico no trabalho dos flanelinhas. Paulo diz que só coloca cones na rua quando é para guardar vagas para deficientes. Além disso, ele ajuda as pessoas a carregarem compras como uma espécie de serviço auxiliar ao que já faz na rua.

Legalização da atividade
Em agosto deste ano, a Prefeitura de Belo Horizonte regulamentou a atividade de lavador e guardador de carro. O reconhecimento por lei federal e municipal dessas atividades ilegaliza a atividade de flanelinha em logradouro público, sujeitanto-o à fiscalização e à aplicação de sanções. A lei já existia, mas só neste ano o código de postura se tornou expresso.

A prefeitura tem acompanhado o cumprimento da lei. O guardador ou lavador de carro deve usar jaleco e crachá registrado no SINTRALAMAC (Sindicato dos Trabalhadores, Lavadores, Guardadores, Manobristas, e Operadores de Automóveis em Estacionamentos Particulares e Lava jatos do Estado de Minas Gerais). Para o melhor cumprimento da lei, a Polícia Militar também tem acompanhado na verificação da atividade.

Ao guardadores de carro é proibida delimitação de vagas com cones nas ruas. A população pode recorrer à denuncia caso isso venha ocorrer, e o trabalhador pode chegar a perder sua licença dependendo do caso.

Regulamentado
Lúcio Lourenço, 38, é registrado como guardador de carro há oito anos. Com um molho de chaves pendurado na calça, expõe a confiança que seus clientes têm. Quando preciso, aplica rotativos nos carros que ficam sob sua responsabilidade.

Há três anos, o irmão de Lúcio, Edson Castor, 30, após sofrer um acidente se cadastrou na atividade. É pai de duas filhas e não viu alternativa como trabalho. “Nem todo mundo dá dinheiro, mas sobrevivo disso aqui”, afirma Edson.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Bispos da Igreja Católica se desentendem sobre a atuação da Igreja na política

Diogo Leão

Dom Raymond Burke

Enquanto bispos católicos brasileiros entram em desacordo sobre o modo como atuar diante da política o Prefeito da Nunciatura Apostólica que funciona como espécie de supremo tribunal do Vaticano, Dom Raymond Burke, fala de certos bispos como trágico exemplo de desobediência na fé e diz que é impossível ser católico praticante apoiando o aborto e o casamento de pessoas do mesmo sexo na vida pública. Dom Raymond Burke discursou sobre o tema no 5o Congresso Mundial de Oração pela Vida realizado em Roma dos dias 5 a 10 de outubro de 2010. O discurso foi poucos dias antes que Dom Luiz Gonzaga Bergonzini, Bispo Diocesano de Guarulhos, fizesse uma carta dirigida a todos os bispos do Brasil, manifestando seu descontentamento com a atitude de alguns líderes da Igreja Católica que apoiam candidatos que favoráveis a interrupção voluntária da gravidez e à união civil entre homossexuais.

O Congresso, no qual foi feito o pronunciamento de Dom Raymond, foi organizado pela Human Life international, organização que tem o objetivo de fazer uma oposição efetiva na sociedade ao que chamam de “cultura da morte”. Eles buscam um enfoque global a questão da vida humana desde o momento da concepção até a morte natural, atualmente contam com noventa e nove delegações em oitenta países, sendo considerada a maior organização pró-vida e pró-mulher do mundo.

“Muitos governos e organizações internacionais seguem uma agenda antivida e antifamília de forma agressiva”, denuncia Dom Raymond na abertura de seu discurso, no qual queixou que muitos católicos abraçam a falsa ideia de separar a vida pública de sua fé, ressaltando, sobretudo o fato de alguns católicos estarem aceitando a legalização do aborto e o reconhecimento civil do casamento entre pessoas do mesmo sexo. “Se cristãos falham ao articular e sustentar a lei moral natural, falham também ao dever fundamental de patriotismo e amor aos seus países no serviço do bem comum”, conclui o prefeito no apartado referente a vida pública dos cristãos.

Dom Luiz Gonzaga Bergonzini
Na carta que Dom Luiz Gonzaga enviou a todos os bispos do Brasil no dia 12 de outubro explica que fez “uma campanha contra os candidatos favoráveis ao aborto, de todos os partidos, a qualquer cargo”. Na carta também menciona uma série de ações tomadas tanto pelo partido dos trabalhadores, PT, quanto por muitos de seus membros com políticas a favor da legitimação do aborto e da união civil de pessoas do mesmo sexo. Quanto a denuncia recebida de crime eleitoral por parte de Dom Demétrio Valentini, da Diocese de Jales, e uma carta anônima ameaçando a sua vida o bispo da diocese de Guarulhos se defende dizendo, “Quero deixar claro que nunca indiquei apoio a qualquer candidato”.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Mineiros chilenos e muita generosidade dos homens

Diogo Leão

Como uma passagem do purgatório ao céu pode parecer aos olhos de muitos a experiência dos trinta e três mineiros chilenos que ficaram presos na mina de San José por cerca de dois meses. Estes homens parecem que foram resgatados das profundezas do abismo e das trevas e elevados às alturas dos céus e às luzes das estrelas. Basta digitar no buscador da Google “mineiros do Chile ganham” que descobriremos a generosidade da comunidade internacional. E por que o Brasil ficaria por fora?

O coração solidário de um empresário húngaro presenteou cada um dos mineiros com um cheque de 8 mil euros (mais ou menos 18 mil reais) para cada um. Os times de futebol Real Madrid, da Espanha, e Manchester United, da Inglaterra, superinteressados em propor exemplos de virtude para a humanidade, convidaram os heróis para verem seus jogos na Europa de modo inteiramente grátis. Como incentivo à cultura, eles também vão conhecer nos Estados Unidos, Graceland, o memorial do cantor Elvis Presley – que assim como os mineiros, não morreu. Com a intenção de elevar os ânimos dos descuidados trabalhadores, Adriana Barrientos, ex-participante de um reality show apresentado no Chile, quis homenageá-los com uma sessão de strip-tease. E para compensar o ciúme de suas esposas, uma loja de artigos femininos em Santiago do Chile, ofereceu-lhes gratuitamente roupas íntimas. Assim por diante, a comovente generosidade da humanidade continua honrando-os com inéditas meias de fio de cobre, com garrafas de vinho da vinícola MontGras, com viagens a Grécia e às praias caribenhas da República Dominicana.

Agora aqui deixo um conselho para os marqueteiros de Dilma Rousseff e de José Serra. Nesta magnífica explosão solidária internacional o Brasil não pode ficar para trás. Serra ainda pode convidá-los para conhecer as belezas de Minas Gerais pela Estrada Real, incluindo um jantar de gala por cortesia do Aécio Neves, na Cidade Administrativa em Belo Horizonte. Já Dilma, pode presenteá-los com uma viagem de cruzeiro pela costa brasileira com um encontro com Lula que lhes mostrará o futuro lugar onde a Petrobrás vai instalar as plataformas do pré-sal. Sejam bem-vindos, mineiros, ninguém aqui quer usar vocês!

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Serra e Dilma sem Marina, religião e aborto

Diogo Leão

Dilma Roussef (PT) e José Serra (PSDB) continuam incertos sobre a conquista dos eleitores que votaram na ex-candidata Marina Silva no primeiro turno das eleições presidenciáveis deste ano de 2010. Neste domingo Marina e o seu partido, o PV, anunciaram a posição de “independência”, não manifestando apoio a nenhum candidato. No primeiro debate para o segundo turno destas eleições também transmitido neste domingo já não apresentaram temas polêmicos ou temas que apelam à religião, temas entendidos como o grande atrativo à grande parte dos votos obtidos pela candidata Marina no primeiro turno.

Não só Marina tem criticado Serra e Dilma pelo viés religioso e a falta de coerência de ambos em temas polêmicos – posição sobre o aborto e casamento de homossexuais – que a campanha de ambos vem tomando, mas também os próprios líderes religiosos e outros líderes de opinião. Os candidatos vem sido acusados de oportunistas com os temas e fingidos nas atitudes.

A semana passada foi uma grande odisséia para tentar convencer o eleitorado sobre estes temas. Para mostrarem-se a eleitores religiosos tanto Serra quanto Dilma visitaram o Santuário Católico nacional em Aparecida do Norte e se encontraram com cristãos popularmente conhecidos como "evangélicos".

Também na semana passada, Dilma assinou uma carta onde diz: “sou pessoalmente contra o aborto e defendo a manutenção da legislação atual sobre o assunto”. No entanto para críticos a afirmação parece uma estratégia de linguagem já que o governo dela não será para a pessoa dela e sim para toda a nação, sendo necessário saber não sua opinião pessoal, e sim sua atitude pública.

Já José Serra, candidato que tem recebido apoio de alguns líderes religiosos acreditando que ele é contra o aborto, em 1998, como ministro da saúde, assinou um documento de norma técnica para o SUS ordenando a distribuição de material necessário e a prática do aborto até o 5º mês de gravidez conforme os casos previstos pela lei. O texto integro deste documento pode ser visto no link http://www.cfemea.org.br/pdf/normatecnicams.pdf.

domingo, 17 de outubro de 2010

Canonização de uma santa antipedofilia

Diogo Leão

Maria Mackillop (1848-1909)
Joana D’Arc, Ignácio de Loyola, João Bosco, Francisco de Assis são nomes dentre as muitas pessoas que a Igreja Católica quis colocar a memória em destaque chamando-os publicamente de “santos”. Todos eles tiveram mal entendidos com as autoridades oficiais da Igreja em determinados momentos e mais tarde inocentados. O que não foi diferente com Maria MacKillop (1842-1909), freira australiana canonizada no dia 17 de outubro de 2010 pelo Papa Bento XVI. A freira chegou a ser excomungada pelo bispo local como conseqüência de ter denunciado um padre pedófilo.

Conforme notícias divulgadas pelo serviço de informação australiano Couriermail, um documentário para o programa ABC's Compass, no ar no dia 10 de outubro, explica que Maria Mackillop, mais conhecida naquele tempo como Madre Mary of the Cross, denunciou o Pe. Keating, de Kapunda, por molestar crianças numa escola católica local.

O padre acusado de pedofilia foi removido das suas funções e enviado de volta para a Irlanda. A humilhação que tal padre teria sofrido despertou a ira de um outro padre, Charles Horan, que era próximo do bispo de Adelaide, Dom Shiel. Parece que Horan fez uso de sua influência para que o bispo excomungasse a freira em 1871, acusando-a de desobediência. Contudo seis meses mais tarde Dom Shiel removeu a excomunhão da religiosa.

Em um período difícil da história da Austrália, quando havia uma grande carência de escolas, assistência médica e assistência social, Madre Mary of the Cross, fundou uma congregação religiosa que dedicasse a estes temas, as Irmãs de São José do Sagrado Coração. Em 1869, já eram sessenta freiras da congregação trabalhando em escolas, orfanatos e abrigos para mulheres.

Na missa de canonização de Maria Mackillop, agora chamada pelos católicos de Santa Maria Mackillop, o Papa Bento XVI fez menção ao fato de que muitos australianos “tem sido abençoados com professores que foram inspirados pelo corajoso e santo exemplo de zelo, perseverança” de Maria Mckillop. De fato, “Santa Maria Mackillop” vem a ser a “primeira santa australiana”.

sábado, 16 de outubro de 2010

Vendedores ambulantes, “camelôs” ou trabalhadores legais

Depois de muito tempo na clandestinidade, os vendedores ambulantes do terminal rodoviário gozam de reconhecimento legal e estão organizados em uma associação




Diogo Leão e Sabrina Assumpção



Destino: São Paulo, mais de seis horas de viagem. O ônibus acaba de chegar à rodoviária, bate aquela sede, o que fazer? De repente, aparece à vista, homens com crachás e camisa azul, gritando “olha a água ai”. Eles aparecem carregando caixas de isopor cheias de garrafas de água, latas de refrigerante e petiscos para venda. No Terminal Rodoviário Governador Israel Pinheiro, os vendedores ambulantes antes clandestinos, hoje já não são trabalhadores reconhecidos perante a lei.

Há 15 anos, com aval da Prefeitura, foi fundada a Associação dos Vendedores Ambulantes do Terminal Rodoviário (ADVATER) em Belo Horizonte. “Para vender aqui, é necessário estar cadastrado na prefeitura e na associação”, diz Roberto Vieira, fiscal assistente da associação. Ele trabalha há mais de 30 anos como vendedor ambulante no local, e conta a respeito das melhorias em seu trabalho desde que, se uniu com colegas para formar a associação.

Roberto: "A gente trabalhava mesmo com a proibição"
“A gente trabalhava mesmo com a proibição, pois era o meio de ganharmos dinheiro”, diz Roberto. Ele também relembra da época em que já fora empreendido diversas vezes pelos fiscais, por trabalhar ilegalmente – “simplesmente chegavam e recolhiam a mercadoria. Sofríamos muitos abusos de poder”.

Uma das responsabilidades da ADVATER é fiscalizar as condições de trabalho dos seus integrantes. “Policio a condição de nosso trabalho dentro da associação, às vezes, algum integrante pode chegar para o serviço com camisa rasgada, embriagado ou algo do tipo”, fala Roberto sobre seu cargo dentro da associação.

Para sua melhor estrutura, a ADVATER, possui um depósito dentro do terminal rodoviário belorizontino, onde fica estocada a mercadoria para venda. Atualmente, um lugar, na Avenida Olegário Maciel, está sendo reformado para futuramente ser um centro de distribuição de mercadorias da Associação.

A ADVATER é gerenciada por quatro pessoas principais dentro da mesma. São elas: presidente, vice-presidente, tesoureiro e fiscal. As pessoas para ocupar os cargos, são eleitas dentro de um conselho de 4 em 4 anos, organizado pela própria instituição. Ela é composta por 54 integrantes ao todo, cada qual sabe quando pode começar a trabalhar. “Eu só posso chegar aqui às 15h, antes ainda tem outro aqui”, explica um dos vendedores que não quis revelar seu nome.

“A Associação é uma forma de trabalho justo”, diz um vendedor. Ele conta que trabalha como ambulante há 25 anos e que quando começou estava desempregado. Hoje, conta como sustenta os 4 filhos, com o dinheiro que ganha da porcentagem das mercadorias que vende todos os dias.

“Minas é luz, é raio, estrela e luar...”

Diogo Leão e Diego dos Santos
Alunos da Central de Produção Jornalística CPJ
Foto de Marden da Mota Couto


“Se os aplausos são um reconhecimento por aquilo que fiz, isso também é um reconhecimento para a terra da qual sou filho” — ou seja, Minas. A afirmação é de um certo Wanderley Alves dos Reis, muito mais conhecido como Wando, sempre lembrado pelos cenários de seus shows, repletos de insinuações sensuais — onde não faltam roupas íntimas femininas e haréns. No último dia 2 de outubro, o cantor mineiro completou 65 anos. Uma entrevista com Wando faz, de imediato, com que o repórter se lembre de pelos alguns de seus grandes sucessos — “moça” (“eu quero me enrolar nos teus cabelos, abraçar teu corpo inteiro...”) e a inevitável “Fogo e Paixão”, também conhecida como “Meu Iaiá, meu Ioiô”.

Com uma discografia de mais de 25 álbuns, o aniversariante confessa que, “quando fazemos algo que as pessoas reconhecem, é sinal de que estamos no caminho certo. Mas isso não quer dizer que você deve ficar parado, e sim que você tem muito mais para mostrar”. Wando nasceu em Cajuri, uma cidadezinha mineira na Zona da Mata, hoje com pouco mais de quatro mil habitantes. “Cajuri é uma cidade pequenininha, tem um pequeno coreto e embora já não tenha a linha de trem, a estação continua lá, onde todo mundo conhece todo mundo”, conta.

Para ele, “Minas tem uma calma que se não encontra com muita facilidade em outros estados, e embora o índice de violência tenha crescido em todo mundo, em Minas continua-se tendo um ambiente de paz”. Para o romântico cantor, ser mineiro “é saber que nasceu numa terra onde as pessoas falam e se encontram mais, têm uma gentileza muito grande — e, principalmente comem muito bem”. Apesar de estar há muito tempo ausente de sua terra natal, Wando não perdeu contato com suas origens. Tanto que, ao falar em pratos mineiros, ele se lembra logo de seu preferido, o tradicional frango com quiabo — “um típico prato mineiro e que é muito gostoso e eu recomendo a todos os turistas”.

As mulheres, que nunca estão ausentes na obra de Wando, são outra paixão sua. Com muito jogo de cintura, Wando afirma simplesmente que aprecia “a beleza das mineiras, que são totalmente diferentes das mulheres dos outros estados”. O que também não quer dizer que no coração do cantor não haja lugar para capixabas, cariocas, mato-grossense ou acreanas — “em outros estados também há mulheres bonitas, mas as mineiras são mais cativantes, têm um sotaque diferenciado, que marca muito”.

Minas é um lugar que vale a pena conhecer? Lógico. Wando citou Juiz de Fora, Tiradentes e Belo Horizonte, mas, quando se fala de Minas Gerais, para ele, a cidade ou região não importam muito. O que importa é que “é um estado cheio de mulheres bonitas”. Ah, sim, Wando lembra ainda que Minas é também a terra “de políticos famosos, pessoas que dão um direcionamento a este país”.

(Esta matéria foi feita para ser publicada no Jornal Turismo de Minas)

“Trovadores do Vale” cantam a riqueza cultural de seu povo

Diogo Leão e Sabrina Assumpção (*)

Fotos Sabrina Assumpção

Alunos da Central de Produção Jornalística CPJ



“Mostrei a riqueza dos pobres e a beleza dos leprosos!”, comenta Franciscus Henricus van der Poel, mais conhecido como Frei Chico. De naturalidade holandesa, residente no Brasil há quase 50 anos, Frei Chico é o fundador de dois significativos corais: os “Tangarás de Santa Isabel”, no qual cantam portadores de hanseníase, e os “Trovadores do Vale”. Este, formado por habitantes de Araçuaí, cidade localizada no Vale do Jequitinhonha, está completando 40 anos de existência neste mês de agosto.

Frei Chico conta que chegou a Araçuaí na década de 1960, tempo em que o Vale do Jequitinhonha era considerado pela UNESCO uma das três regiões mais pobres do mundo. “Eram oito horas de estrada de chão de Diamantina a Araçuaí. Assisti mortes de pessoas que procuravam hospital, mas não chegavam a tempo”, acentua o frade franciscano. Segundo o religioso, apesar de toda situação de pobreza, o povo do Vale sabe manifestar sua alegria através de sua arte, do seu artesanato, das suas pinturas, das suas cantigas, das suas festas. “A festa é o acontecimento no qual eles se acolhem, comem e se alegram com a esperança de que a desgraça vai acabar”, explica Frei Chico. Dessa riqueza de contexto regional e da personalidade de Frei Chico, foi que surgiu o Coral Trovadores do Vale.

O cantarolar de Dona Filó, cozinheira da casa paroquial, chamou muito a atenção de Frei Chico, quando era recém-chegado no Brasil. “Ela cantava enquanto cozinhava, enquanto tomava banho — assim comecei a aprender as cantigas populares daquele povo”, lembra. Foi daí que surgiu a ideia de formar um coral para cantar na Igreja Matriz de Araçuaí. Com a ajuda de Maria Lira Marques, sem a qual seria impossível fundar o coral, veio também a ideia de que o coral viesse divulgar a cultura popular do Vale do Jequitinhonha. “A primeira apresentação que fizemos em público, foi na inauguração do Campus Avançado, no prédio de um antigo seminário em Araçuaí”, conta Frei Chico.

Para o frade, enquanto, muitas vezes os meios de comunicação continuam impondo uma cultura individualista e alienante, o coral “Trovadores do Vale” divulga uma cultura que é vida, com seus ritmos populares como o canto de roda, folia de reis, de contradança, de batuques que falam de amor, trabalho, pobreza, migração, religião e natureza.

Depois de tanto tempo morando no Vale, a dica para os turistas só pode ser a região do Jequitinhonha, que tem um dos artesanatos mais ricos do país. Segundo Frei Chico, é pela sensibilidade dos artistas que os dramas da região se transformam numa arte que, hoje, já corre o mundo e é parte de alguns dos museus mais importantes do Brasil e da Europa.

(Esta matéria foi feita para ser publicada no Jornal Turismo de Minas)


Um ‘abecedário’ diferente

Diogo Leão
Fotos Sabrina Assumpção
 Alunos do Centro de Produção Jornalística, CPJ




“O Brazil nunca foi ao Brasil”, teorizava o poeta Aldyr Blanc, no samba “Querelas do Brasil”, eternizado na voz de Elis Regina, citando palavras como pererê, jabuti, tapir, jereba, ariranha... entre outras palavras que um Brazil com “z”, de hot dogs e downloads, insiste em desconhecer. Segundo Aldyr, o “Brazil tá matando o Brasil”. Não, se depender de alguns dos mais de 1500 verbetes do “Abecedário da Religiosidade Popular, Vida e religião dos pobres”, segundo Franciscus Henricus van der Poel. Quem? Frei Chico, um frade holandês com quase 50 anos de Brasil.

Ele, que é um dos autores do clássico “Beira-Mar”, gravado até por Milton Nascimento e pela dupla Pena Branca & Xavantinho, é coautor da obra junto com Lélia Coelho Frota, que está em ponto de bala, depois de mais de 15 anos de preparação.

O livro reúne elementos necessários para a compreensão da cultura popular, especialmente da cultura afro-brasileira, focada principalmente na região do Vale do Jequitinhonha. Nele aparecem elementos tanto religiosos quanto do dia a dia do povo — desde comidas e remédios até armas. Cada letra do alfabeto é introduzida com um desenho de Maria Lira Marques, musicista e artesã do Jequitinhonha.

O ‘Abecedário’ está destinado a artistas, jornalistas, educadores, professores, pesquisadores das áreas de ciências sociais e humanas, religiosos, e todos que desejam refletir sobre a vida e a fé dos pobres. Segundo Frei Chico, “infelizmente é comum a opinião de que a alfabetização, a organização do trabalho, a democratização da sociedade podem ser resolvidos sem a cultura. E a religiosidade popular é cultura”.

Desde a juventude, ainda na Holanda, Frei Chico sempre teve interesse pela cultura do Brasil — ele conta que ouvia muita música brasileira por lá. “Lembro-me de ter lido ‘Os Sertões’, de Euclides da Cunha, em holandês. O tradutor pedia desculpas por não conseguir traduzir algumas finezas do vocabulário popular”, conta o frade. Mais tarde, em Araçuaí, uma das cidades mais importantes do Vale do Jequitinhonha, Frei Chico teve profundo contato com a cultura popular, em diversos patamares — do artesanato à música, passando pela dança e culinária. Adicionado a sérios estudos, este contato o capacitou à elaboração da obra. O Brazil com “z” tem, agora, uma chance bem maior de conhecer o Brasil.

Retorno às demandas da população

As políticas de assistência social e o

seu contato com as necessidades da população



Diogo Leão e Sabrina Assumpção – alunos da Central de Produção Jornalística (CPJ)


“Se não tivermos dado este retorno para a comunidade, a próxima Conferência Municipal de Assistência Social não será produtiva”, diz Kleid’ Néa Martins Borges, gerente de Políticas Sociais da Regional Noroeste da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). Um dos motivos para isso, segundo ela, é a desarticulação entre atores sociais.

As Conferências Municipais de Assistência Social são realizadas a cada dois anos e a última de Belo Horizonte ocorreu em julho de 2009. Elas deliberam políticas conforme as demandas da população e elegem representantes. No entanto, de acordo com a gerente, há uma desarticulação entre as Comissões Locais de Assistência Social (CLAS) e os Conselhos Regionais de Assistência Social (CRAS).

Kleid’ Néa Borges ressalta ainda os desafios para melhorar a atuação das políticas existentes de apoio à população. Para ela, é preciso sinergia no trabalho para melhorar os serviços de educação, saúde e atendimento ao menor. E reforça: “Nós ainda temos o problema do orçamento, já que os recursos enviados pela união, estado e município não são suficientes para atender a todas as necessidades”.

De acordo com o site da Prefeitura de Belo Horizonte, a última Conferência Municipal de Assistência Social foi realizada em julho de 2009 e, entre suas deliberações e propostas, está a melhoria da comunicação entre as Comissões Locais de Assistência Social e os Conselhos Regionais de Assistência Social. Na Regional Noroeste de Belo Horizonte, além da desarticulação dos órgãos, o processo de implantação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) tumultuou as ações da Regional, segundo Kleid’ Néa Borges. “Estamos praticamente trocando a roda enquanto o carro anda”, reclama.



Constituição

A Constituição Federal assegura que a Assistência Social é direito de todo cidadão que dela necessita. Já a Lei Orgânica de Assistência Social, de 1993, determina que este serviço esteja organizado em um sistema composto pelo poder público e pela sociedade civil. As realizações das conferências de assistência social são uma etapa essencial da aplicação desse sistema. Elas primeiramente acontecem na esfera municipal e posteriormente nas estaduais e nacionais.

A IV Conferência Nacional de Assistência Social, realizada em dezembro de 2003, deliberou a implantação do Sistema Único de Assistência Social – SUAS. “Paramos de ter só políticas públicas de assistência social e passamos a ter um sistema”, esclarece Kleid’ Néa Borges, sobre o funcionamento do SUAS. Ainda segundo a gerente, agora esse procedimento tem o mesmo nome, a mesma metodologia e recebe o mesmo montante de capital proporcional conforme as necessidades em todo o país.

(Esta matéria foi feita para ser publicada no Jornal Páginas Abertas)


Caso Geisy e feminismo

Compartilho a visão do Professor João Freitas publicada na edição do Estado de Minas do dia 16/12/2009. Quando aproveitando dos fatos relacionados a estudante Geisy para comentar sobre o feminismo escreve: “quando a mulher moderna aspira a ser igual ao homem, mais parece aspirar ao direito a indignidade, ao descaramento, à descompostura, à sem-vergonhice, mais parece aspirar ao direito de surfar triunfante na onda da imoralidade”. Acredito que os movimentos feministas deviam promover mais a dignidade da mulher, valorizá-la mais. Muitas vezes pessoas que dizem abraçar ideologias feministas apresentam a mulher de forma como se o único que esta pudesse oferecer (ou vender) para sobreviver na sociedade, como se o principal campo onde ela deve se auto-afirmar, fosse a sua capacidade de sedução para o prazer sexual. Desta forma o que se afirma é a bestialidade cada vez maior que nós humanos estamos vivendo na sociedade, esquecendo de outras características, para nos afirmar naquilo que temos de mais comum com os outros animais. Mulher tem muitas outras capacidades a oferecer além da capacidade de atração sexual. Ela tem muitas outras riquezas, que não estão por igual ao alcance dos homens. Capacidades que se destacadas e otimizadas haveria verdadeiras revoluções na sociedade. Para enumerar algumas de muitas dessas capacidades, para muitos de nós basta-nos lembrarmos de nossas mães ou irmãs: elas têm uma sensibilidade maior para perceber os valores humanos e virtudes; tem uma capacidade maior para reconciliação e perdão; tem uma capacidade maior para alegrar o ambiente onde freqüentam, quando este está seco e amargo adocicando-os com mais habilidade; etc.