domingo, 27 de outubro de 2013

Alexandre Magno contra Diógenes



Houve na Grécia Antiga, um filósofo que se chamava Diógenes que viveu aproximadamente entre 412 e 323 a.c. Por ser originário de Sínope também é conhecido como Diógenes de Sínope. Não obstante, passou grande parte de sua vida em Atenas e em Corinto.
Diógenes era um filósofo cínico. Os cínicos eram um grupo de filósofos que viviam de forma muito austera, além de serem campeões da ironia ao debater. Por isso até hoje dizemos que uma pessoa está fazendo cinismo quando ela é irônica.
Conta-se que Diógenes vivia em um tonel e em seu comportamento tentava imitar algumas características dos cães. Os cães comem qualquer coisa, dormem em qualquer lugar, vivem o presente sem se preocupar pelo que não pode controlar do futuro. Esses animais também sabem distinguir o amigo do inimigo instintivamente e reagem com honestidade diante da verdade.
Uma das muitas anedotas que se conta sobre Diógenes foi o seu encontro com Alexandre Magno, de quem não aceitou nenhuma proposta, e cinicamente lhe pediu que não lhe tirasse o sol ao fazer sombra sobre ele durante a conversa.  Ramón de Campoamor, um poeta espanhol do século XIX, assim retratou esse encontro:

Duas grandezas
Ramón de Campoamor


Um altivo, outro sem lei,
Assim os dois falando estão:
_ Eu sou Alexandre, o rei.
_ E eu Diógenes, o cão.

_ Venho fazer-te mais honrada
tua vida de caracol.
O que quer de mim?
_ Eu, nada;
que não me tires o sol.

_ Meu poder... é assombroso,
_ Porém a mim, nada me assombra.
_Eu posso fazê-lo ditoso.
_ O sejas, não fazendo-me sombra.

_Terás riquezas sem taxa,
um palácio e um dossel.
_ E para que quero casa
mais grande que este tonel?

_ Mantos reais gastarás
de ouro e seda.
_ Nada, nada! Não vês que melhor não me darás
que esta capa remendada?

_ Ricos manjares devoro.
_ Eu com pão duro me conformo.
_ Bebo o Chipre em taças de ouro.
_ Eu na mão água bebo.

_Mandarei quanto tu mandes.
_Vaidade de coisas vãs!
E a umas misérias tão grandes
as chamais felicidades humanas?

_ Meu poder a quem geme
vai com glória socorrer.
_A glória! Capa do crime;
crime sem capa. O poder!

_ Toda a terra, iracundo,
tenho prostrada diante de mim.
_ E és dono do mundo,
não sendo de ti dono enfim?

_Eu sei que, do orbe dono,
serei do mundo, o ditoso.
_Eu sei que teu último sono
Será teu primeiro repouso.

_Eu imponho ao meu arbítrio leis.
_ Tanto de injusto ostentas?
_ Levo vencido cem reis.
_ Bom bandido de coroas.

_ Viver poderei aborrecido,
mas não morrerei olvidado.
_ Viverei desconhecido,
mas nunca morrerei odiado.

_ Adeus, pois romper não posso
de teu cinismo o crisol.
_Adeus! Como fico ditoso,
Pois não me tiras o sol!

E ao partir, ambos com ofensas em cambio,
Um altivo, outro implacável:
_ Miserável disse o sábio;
e o rei disse: _ Miserável!

(Tradução de Diogo de Oliveira Leão)