sábado, 16 de outubro de 2010

“Trovadores do Vale” cantam a riqueza cultural de seu povo

Diogo Leão e Sabrina Assumpção (*)

Fotos Sabrina Assumpção

Alunos da Central de Produção Jornalística CPJ



“Mostrei a riqueza dos pobres e a beleza dos leprosos!”, comenta Franciscus Henricus van der Poel, mais conhecido como Frei Chico. De naturalidade holandesa, residente no Brasil há quase 50 anos, Frei Chico é o fundador de dois significativos corais: os “Tangarás de Santa Isabel”, no qual cantam portadores de hanseníase, e os “Trovadores do Vale”. Este, formado por habitantes de Araçuaí, cidade localizada no Vale do Jequitinhonha, está completando 40 anos de existência neste mês de agosto.

Frei Chico conta que chegou a Araçuaí na década de 1960, tempo em que o Vale do Jequitinhonha era considerado pela UNESCO uma das três regiões mais pobres do mundo. “Eram oito horas de estrada de chão de Diamantina a Araçuaí. Assisti mortes de pessoas que procuravam hospital, mas não chegavam a tempo”, acentua o frade franciscano. Segundo o religioso, apesar de toda situação de pobreza, o povo do Vale sabe manifestar sua alegria através de sua arte, do seu artesanato, das suas pinturas, das suas cantigas, das suas festas. “A festa é o acontecimento no qual eles se acolhem, comem e se alegram com a esperança de que a desgraça vai acabar”, explica Frei Chico. Dessa riqueza de contexto regional e da personalidade de Frei Chico, foi que surgiu o Coral Trovadores do Vale.

O cantarolar de Dona Filó, cozinheira da casa paroquial, chamou muito a atenção de Frei Chico, quando era recém-chegado no Brasil. “Ela cantava enquanto cozinhava, enquanto tomava banho — assim comecei a aprender as cantigas populares daquele povo”, lembra. Foi daí que surgiu a ideia de formar um coral para cantar na Igreja Matriz de Araçuaí. Com a ajuda de Maria Lira Marques, sem a qual seria impossível fundar o coral, veio também a ideia de que o coral viesse divulgar a cultura popular do Vale do Jequitinhonha. “A primeira apresentação que fizemos em público, foi na inauguração do Campus Avançado, no prédio de um antigo seminário em Araçuaí”, conta Frei Chico.

Para o frade, enquanto, muitas vezes os meios de comunicação continuam impondo uma cultura individualista e alienante, o coral “Trovadores do Vale” divulga uma cultura que é vida, com seus ritmos populares como o canto de roda, folia de reis, de contradança, de batuques que falam de amor, trabalho, pobreza, migração, religião e natureza.

Depois de tanto tempo morando no Vale, a dica para os turistas só pode ser a região do Jequitinhonha, que tem um dos artesanatos mais ricos do país. Segundo Frei Chico, é pela sensibilidade dos artistas que os dramas da região se transformam numa arte que, hoje, já corre o mundo e é parte de alguns dos museus mais importantes do Brasil e da Europa.

(Esta matéria foi feita para ser publicada no Jornal Turismo de Minas)


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