quinta-feira, 21 de outubro de 2010

A Realidade dos Flanelinhas

Sabrina Assumpção (com colaboração de Diogo Leão)

Paulo Cézar tomando conta dos carros ao lado a igreja do Pe. Eustáquio
em Belo Horizonte
Ao estacionar seu carro em via pública, seja no centro da cidade ou em qualquer outro lugar mais movimentado, lá estão eles para auxiliá-lo. Os tomadores de conta, ou popularmente flanelinhas, trabalham como autônomos. Oferecem atividades como lavagem e localização de vagas para carros a fim de ganhar um trocado por esse tipo de serviço. Eles ficam na rua cotidianamente, sob sois escaldantes, e correm risco de vida durante noites desérticas, tudo, com o objetivo de receber um trocado.

“Tem gente que não reconhece meu trabalho, mas daqui que tiro meu sustento”, diz Paulo Cézar, que há oito anos trabalha como flanelinha no mesmo local. Na pracinha onde fica, mostra o que sobrou do escritório improvisado que havia montado. Parte foi varrida pela prefeitura, e queimada por outros flanelinhas que tentaram se estabelecer em seu local de trabalho. Lá, ao mesmo tempo em que escreve poesias, Paulo toma conta dos carros estacionados e faz amizade com todos que passam pela região. “A polícia daqui me dá a maior força”, fala sobre o apoio que recebe.

Segundo Paulo, a profissão é bem arriscada. Quando vê pessoas suspeitas se aproximando dos carros, ele dá um jeito de conversar, para saber de suas intenções. Mas, dependendo da situação, às vezes, liga pra polícia. “Em 2004, colocaram um revólver na minha cabeça e levaram o carro”, conta Paulo sobre incidente em que quase perdeu a vida. Mas, feliz, conta que gosta do que faz — “o pessoal daqui me trata como uma família”.

A respeito do dinheiro que arrecada, Paulo conta que não pede nada, e que cabe ao dono do carro reconhecer seu serviço e avaliá-lo — “Tem uns flanelinhas que exigem, e não é por ai, a rua é pública e dá dinheiro quem quer. Já cheguei a receber R$ 100 em época de Natal”. A colocação de cones em vias públicas é outro item polêmico no trabalho dos flanelinhas. Paulo diz que só coloca cones na rua quando é para guardar vagas para deficientes. Além disso, ele ajuda as pessoas a carregarem compras como uma espécie de serviço auxiliar ao que já faz na rua.

Legalização da atividade
Em agosto deste ano, a Prefeitura de Belo Horizonte regulamentou a atividade de lavador e guardador de carro. O reconhecimento por lei federal e municipal dessas atividades ilegaliza a atividade de flanelinha em logradouro público, sujeitanto-o à fiscalização e à aplicação de sanções. A lei já existia, mas só neste ano o código de postura se tornou expresso.

A prefeitura tem acompanhado o cumprimento da lei. O guardador ou lavador de carro deve usar jaleco e crachá registrado no SINTRALAMAC (Sindicato dos Trabalhadores, Lavadores, Guardadores, Manobristas, e Operadores de Automóveis em Estacionamentos Particulares e Lava jatos do Estado de Minas Gerais). Para o melhor cumprimento da lei, a Polícia Militar também tem acompanhado na verificação da atividade.

Ao guardadores de carro é proibida delimitação de vagas com cones nas ruas. A população pode recorrer à denuncia caso isso venha ocorrer, e o trabalhador pode chegar a perder sua licença dependendo do caso.

Regulamentado
Lúcio Lourenço, 38, é registrado como guardador de carro há oito anos. Com um molho de chaves pendurado na calça, expõe a confiança que seus clientes têm. Quando preciso, aplica rotativos nos carros que ficam sob sua responsabilidade.

Há três anos, o irmão de Lúcio, Edson Castor, 30, após sofrer um acidente se cadastrou na atividade. É pai de duas filhas e não viu alternativa como trabalho. “Nem todo mundo dá dinheiro, mas sobrevivo disso aqui”, afirma Edson.

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