domingo, 22 de novembro de 2009

Visão de Turista

Escutar o convite para as orações mulçumanas ressoando da torre de uma mesquita é melodioso. Ver um guru recitando mantra dá percepção de uma realidade espiritual. Ver os judeus observando o sabath leva a reconhecê-los como piedosos. A regra que alguns monges budistas vivem desde a infância como exigência do celibato, de não tocar em nenhuma mulher nem na própria mãe, é admirável por tamanha visão sobrenatural dos orientais. A mulher hindu, que como exigência de fé, se lança nas chamas que queimam o corpo do falecido esposo, como mostra de amor inseparável, é elogiável. E um turista admira muitas outras práticas encontradas em diferentes lugares do mundo. Diria que tudo isso é muito lindo. Voltando contaria que viu pessoas coerentes, integras que se comportam conforme seus princípios, que encontram sentido nas coisas que fazem etc.

Escutar o sino da Igreja, ou o “Ave-Maria” às seis horas no rádio. Que chato! Rezar o terço. Que monótono! Ir na Igreja no domingo. Preciso descansar! O celibato dos padres é antinatural. Casamento para toda a vida é coisa do passado. O mesmo turista admira valores sustentados por outras culturas, despreza os de análoga categoria da própria.

Agora, porque isso acontece? Por que o turista já não consegue continuar apreciando estes valores como apreciava os outros? Que diferença existe entre estes valores? Por que estes valores o incomodam tanto?

Quanto à convocatória da torre da mesquita, o turista não a entendeu como se fosse para ele, nem mesmo era ele que recitava o mantra, não foi o seu filho que foi ser monge budista, e sua esposa não pretende lançar-se sobre as chamas que queimariam o corpo dele. Estas práticas não faziam sentido para ele, mas para os outros. Se ele se incomoda já com alguma prática, é porque as sentiu na própria pele, porque de alguma forma faz sentido para ele. Assim é mais fácil desprezar tais práticas que admitir a própria incoerência.

Nas outras culturas ele é só turista, mas na própria ele é cidadão.

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