quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Política, religião e exploração

Diogo Leão

Fato visível nestas eleições tem sido a estratégia que os candidatos José Serra e Dilma Rousseff tentaram usar para conquistar votos explorando a religiosidade do povo. Pudemos ver nas proximidades do dia 12 de outubro, dia em que os católicos brasileiros festejam Nossa Senhora Aparecida que tanto Serra quanto Dilma visitaram o santuário dedicado à santa. Santinhos com motivos religiosos foram impressos como propaganda de Serra e Dilma procurou reunir-se com líderes de cristãos popularmente conhecidos como “evangélicos”.

Os estudos de fenomenologia da religião, feitos pela linha filosófica que leva o mesmo nome, verifica que a religião é um fenômeno universal entre os humanos, que caracteriza a visão de mundo que este tem dividindo tudo o que existe entre sagrado e profano, e que conduz o homem por uma série de práticas que o leva à salvação de suas alienações. As religiões também têm seus líderes que orientam as consciências de seus adeptos conforme suas doutrinas. Os homens são capazes de suportar grandes sofrimentos por causa de suas religiões até mesmo a morte.

Estamos em um momento novo da história da humanidade onde surgiu o estado laico. Na maioria das civilizações e períodos da história o poder religioso esteve unido ao poder político, um dependia do outro. O cristianismo surgiu como religião proibida, já que no seu ambiente originário eram considerados como blasfemos entre os judeus (pois diziam que Jesus era não só o messias, mas também Deus) e rebeldes entre os romanos (pois resistiam reconhecer o imperador como divino). Nestas condições, essa religião, aportou um novo comportamento religioso no ocidente, porque ela foi possível existir de forma independente do estado. Com o decorrer da idade média a influência política do cristianismo cresceu muito, diminuindo na idade moderna devido aos regimes absolutistas onde os monarcas tentavam dominar a religião e quase oficialmente terminada na idade contemporânea, pois ainda restam alguns casos como o da Inglaterra onde o anglicanismo é a religião oficial.

No entanto, quando uma pessoa se adere a uma religião, ela o faz com todo o seu ser. Sendo assim também com sua consciência e liberdade. Isso explica a flexibilidade de abandono da religião quando essa é imposta. Na religião a pessoa movida pela fé, muitas vezes faz experiência de paz quando consegue identificar seus pensamentos e atitudes com a religião.

Algo antiético é explorar desta dimensão humana por parte de alguns para obter vantagens pessoais, usando não só a religião, como também as pessoas e no caso de exploração da religião para obter vantagens políticas, um retrocesso no progresso que a humanidade fez em conseguir viver a religião com liberdade, de forma independente do estado.

Agora dado que uma religião engloba a pessoa humana em sua totalidade, sem dúvida o indivíduo como religioso como tal também atuará na política, defendendo as suas posições e não é uma atitude democrática abafar a atuação dos indivíduos.

Por outro lado vemos também o fato de usar a religião como caminho fácil para apresentar valores, não necessitando recorrer a argumentações mais precisas. Isso mostra falta de boa vontade dos políticos debater suas propostas. A falta de reflexão e de boa vontade tende a apelar a motivos religiosos em temas polêmicos como aborto e união civil de homossexuais. Se alguém é contra o aborto ou à união civil de homossexuais tende a ser taxado imediatamente como religioso e que por isso em um estado laico não se deve levar em consideração a posição dela. Será que realmente só motivos religiosos levam a estas posições?

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